Quando eu era pequena gostava de brincar de andar pela casa
com o espelho refletindo o teto e eu fazendo de conta que era o chão. Virava
ele pra cima e ficava olhando e andando, pulando quando aparecia uma lâmpada e
cuidando pra não tropeçar quando tinha uma viga. Gostava de ver as coisas de
cabeça pra baixo.
Quando fiquei um pouco mais velha, gostava de colocar um
colchão no chão próximo a parede e plantar bananeira. Ficava horas fazendo isso.
Me atirava em direção à alvenaria pra que ela sustentasse meu peso e lá ficava
me equilibrando nas mãos. Tudo ao contrário, meu mundo de ponta cabeça. Tão
bonito.
Gostava de ver futebol pulando em cima da cama. De andar de
balanço e ao invés dele ir pra frente e pra trás, girá-lo ao máximo que
conseguia só pra ver tudo rodando ao meu redor. De voltar de uma longa
caminhada e não me atirar no sofá, mas sim me esticar no chão duro de
madeira. De andar de bicicleta de pé.
Hoje, ainda conservo velhos hábitos. Nas salas de aula costumo
me encostar nas paredes e virar pra turma e não pro professor. Onde é possível gosto
de sentar no chão ou no braço do sofá. Durmo feliz em um colchão sobre o piso.
Prefiro sentar de perna de índio do que elegantemente cruzar as pernas. Observo
sempre as copas das árvores dos locais em que me encontro e as fachadas das
ruas na qual estou.
Aprendi cedo como ver as coisas sobre diferentes pontos de
vista, me acostumei com eles. Gosto da sensação que cada “mirada” diferente me
proporciona. Talvez daí venha minha fascinação por palavras palindrômicas. Como
elas podem ser sempre iguais. Daí a ironia de eu me chamar ANA, que de trás frente,
da frente pra trás é tudo igual. Daí meu anseio de descobrir novos meios de
olhar. Porque é o jeito que a gente vê o mundo que determina como iremos agir
sobre ele.
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