Meu corpo tremia internamente.
Como se parte de mim estivesse entrando em erupção. Um terremoto interno que eu
não consigo controlar. Uma agitação que não se reflete em minhas mãos firmes. Como
se algo dentro de mim ansiasse por sair e tentava fortemente se livrar das
barreiras físicas existentes.
Usei todos os exercícios de
respiração que conheço pra ver se isso passava. Rezei, quando os exercícios não
tiveram efeito. Pensei então em levantar. Encarei o momento como eu me dizendo
que era hora de tocar a vida. Usei toda a minha racionalidade para encontrar o porquê
daquilo. Fui vencida pelas sensações.
Mudei de cama, de posição, de
tática. Quem sabe era só o lugar, que me trazia más recordações daquela noite terrível
de 2011. Não funcionou. Dessa vez parecia que seria um pouco mais complicado.
Levantei. Andei pela casa, tomei
café. Nada. Tentei me lembrar dos sonhos que tive durante a noite. Esforço em
vão. Sabia que tinha sonhado o tempo inteiro, mas por mais que eu tente não consigo
me lembrar exatamente com o que. Tinha água, uma casa, uma pessoa. Eu tinha que
salvar ela, mas não dava. Eu tentava e não conseguia. Parei de pensar nisso,
não ajuda. Não agora.
Coloquei minha música favorita a tocar. Prestei atenção na letra, me agarrando a cada silaba pronunciada. Fui
até a janela pros raios de sol me abraçarem. Me senti mais viva. Tomei o café
da manhã. Segui a rotina como manda o figurino. Espantada em como minhas mãos teimavam
em não transparecer o que estava acontecendo. Pensei que fosse o frio, me dei
conta que continuava quente. Resolvi escrever.
Me debrucei sobre o papel e deixei as palavras virem. De repente a energia não estava
mais lá. O terremoto se fora. Como se
cada uma das palavras desse texto tivesse filtrado um pouco do que estava
dentro de mim. Ou será que foi o calor do sol que fez minha energia se evaporar. Pode ser que tenha sido a reza que tenha feito efeito, a música ou quem sabe tudo junto.
Pra quem tem os sentidos
aguçados. Que insiste em ver mais, ouvir mais, observar mais, tem coisas na
vida que se tornam complicadas. Não sei a fórmula mágica pra voltar a ver
menos, ouvir o necessário e não entender além do óbvio. Por muito tempo busquei
ignorar isso, porque achava que as coisas seriam mais fáceis. Hoje, me contento
em lidar com elas. Sinto tudo com uma intensidade imensurável. E não considero
isso algo bom, mas algo que de uma forma ou de outra faz parte de mim e eu
tenho que conviver.
O pior é não ter um método
racional para controlar isso. Teu corpo não obedece. Essa coisa de instinto que
prevalece e te guia pra onde ele quer que tu vás. E não existe a opção de ir
contra, porque é pior. Deixar que tudo flua sem pensar no fim é complicado pra
nós que vivemos conectados ao futuro. É a minha aventura de cada dia. Deixar
meu corpo ser minha razão. Deixar minhas mãos livres, para escreverem o que
quiserem e só depois ver se faz sentido.
Agora, meu corpo já não treme
mais. Minha razão volta a guiar minhas pernas, meus braços, minha cabeça. Não
tenho mais um turbilhão de pensamentos. Finalmente, meu dia amanheceu em paz.
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