terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O FAZER

Jogou tudo no chão. Não que estivesse braba ou algo do gênero. Jogou porque precisava ter tudo em meio ao caos pra se reorganizar. Tinham objetos que se encontravam no lugar, mas decidiu mesmo assim jogá-los também. Queria ver tudo embaralhado, misturado, queria achar o sentido no que parecia não fazer sentido algum. Tinha uma necessidade forte de fazer pra isso. Pra provar pra si mesmo que tudo tinha uma conexão, mesmo que os outros teimassem que não, que era loucura da parte dela. Que só ela via o que dizia estar ali.

Começou do mais simples. Do óbvio, do que ninguém podia discordar. Olhava a bagunça e pensava no próximo passo a dar. Não tinha pressa, tinha tempo. Podia fazer com calma. Fazer direito. Não admitiria erros dessa vez, faria tudo conforme o que havia planejado. Daria certo, ela sabia.

Tinha em sua mente o “todo”, mas achava fascinante cada parte, cada detalhe. O final a impulsionava, mas os pedaços tinham valor único, uma importância inestimável. Os pedaços a encorajavam a ir em frente, prendiam sua atenção, a faziam pensar, entender, valorizar cada minuto gasto naquela tarefa.

Demorou, mas fez. Com um esforço só seu. Olhou pro chão e nada mais se encontrava ali. Cada coisa em seu devido lugar, como deveria ser, como estava estabelecido que seria. Mas isso realmente a fazia feliz? Era a ordem indiscutível que trazia paz a sua vida ou o caos único que só ela entendia que a estimulava cada vez um pouco mais. 

Não podia estar certo. Droga! Ela planejara tanto, fizera com tanto esmero. Antes era assim que era o certo. Sabia disso, como dois+dois são quatro. O tempo passara, as coisas mudaram, já não era mais como antes. Teria ela falhado em sua missão?

Por fim, repleta de interrogações, jogou tudo no chão novamente e recomeçou seu trabalho, dessa vez sem projeto nem nada e com um pouco de raiva de si mesma. Organizaria tudo aleatoriamente, do modo que quisesse, mesmo que ninguém continuasse a entender. Tudo daria certo, ela sabia disso. Via qualidades no que ninguém mais via, admirava cada item á sua forma e recomeçaria sempre que necessário, até a perfeição. Ou até o que ela julgava ser perfeito. 

Passado mais um tempo, olhou o resultado final e chegou a conclusão que mesmo desajeitada do jeito que era, inversa do jeito que se sentia, seus erros tinham um nexo que muitos dos acertos não conseguiam ter. Cada peça se encaixava com perfeição, mesmo quando colocadas de uma forma não convencional. Era o não convencional, o anormal, que tornava o todo tão interessante. Sorriu, porque agora sim, via algo de seu ali, algo de único, algo que ninguém teria igual, ninguém pensaria em fazer, sem nenhum risco de ser copiada. E isso é o que a tornava feliz, completa, em paz ...

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