terça-feira, 7 de agosto de 2012

BENZE A DEUS! MINHA MAIS VELHA SE FORMOU!

 Foi tudo tão lindo pai!

Acordei nervosa, como era de se esperar. Tremendo. Não tanto quanto a mãe estava. Tinhas que ter visto, parecia que quem ia se formar era ela.

A nonna veio  tomar café conosco. Aos poucos fui me acalmando, a medida que falamos bobagens tudo parecia mais simples. Deixei o tempo correr. Melhor, passar. Porque em momentos como esse não se pode ter pressa, tem que deixar as coisas acontecerem ao seu ritmo, aproveitando cada minuto.

Todos tinham algo pra fazer. Me vi sozinha por um tempo, tentando raciocinar a grandeza do momento, do que aquele dia significava. Tomei um banho demorado. Quente, pra tirar tudo o que não era pra levar pra próxima fase.Estava tão perdida que quase me esqueci de almoçar.

Sai para começar os preparativos: cabelo, maquiagem, mão, pé, etc. Todas essas  coisas de mulherzinha me sentindo super bem por ter um momento só pra mim, pra parar de pensar no mundo e me focar no que me faz bem. Sabe, essa coisa de deixar tudo de lado e só ter que decidir qual é a cor de esmalte que mais combina com o teu vestido.

Quando me vi pronta parei para respirar fundo e me recompor para sair de casa. Tudo parecia ter um cheiro diferente, uma cor nova. Senti um frio na barriga, uma vontade de me atirar nesse novo, mas um medo do desconhecido.

O dia estava quente, diferente do que eu esperava. Estava meio abafado também e as vezes uma chuvinha rompia o céu caindo de leve. Não era como eu tinha imaginado, mas a essa altura tudo era bonito ao seu jeito.

Confesso que enquanto descia as escadas me imaginei passando pela churrascaria, rindo sozinha com minha meia duzias de cachos repletos de laquê, parando junto ao caixa, te procurando pra te pedir o que tu achava do cabelo e tal, mais ou menos assim:
 - E ai pai, o que achou?
E tu me responderia com aquela tua resposta habitual:
 - Como sempre minha filha, só que mas maquiada.

Eu sabia que no momento em que eu saisse tu falaria pros outros presentes tudo aquilo que havia calado, mas que eu já havia lido nas entrelinhas da tua frase corriqueira.

Vestir a toga fez tudo parecer mais real. Eu xingava baixinho São Pedro pelo calor e agradecia pela trégua da chuva.

Momento de fotos, fotos e mais fotos e eu com a cabeça na colação, só pensando se não ia tropeçar, se não ia me esquecer de nada, se tudo daria certo, se a decoração estaria bonita e afins...

Depois da foto oficial na entrada da reitoria e a fila de entrada formada todas as dúvidas se desfizeram, eu só queria aproveitar cada segundo, curtir o momento, lembrar de cada sensação.

Olhei inumeras vezes para a platéia, vi a mãe, as gurias e te imaginei ali. Nem adianta vir me dizer que não iria, porque tu sabe que eu não aceitaria nenhuma desculpa para não estares presente, mesmo sabendo que tu odeia cerimonias. Afinal, toda a conquista é tua também.

Quando me chamaram o mundo em volta desapareceu. Um filme passou na minha cabeça. Me lembrei de todas as noites em claro, nos momentos em que tu ficava acordado comigo, rindo das piadas do Jô Soares e olhando de cantinho pra ver o quanto faltava pra eu acabar e ir dormir, pedindo de tempos em tempos no que poderia me ajudar.

Nem sabias o tamanho da ajuda que me davas só por estares ali, saber que eu não estava sozinha fazia TODA  a diferença. Mas tu sempre se rendia uma hora e meio a contragosto me deixava ali terminando o trabalho e ia merecidamente descansar.

Enfim recebi o canudo. Eu estava tão feliz que quase nem consegui assinar o diploma. Quando a cerimônia acabou, fui pra casa mudar de roupa para ir para a recepção. A chuva quietinha começava a cair, como se todas as lágrimas que insistiam em não aparecer nos meus olhos se transpusessem a uma garoa no meio da noite.

Foi tão bom ver reunidos em poucos m² tantas pessoas tão importantes pra mim.  Tive a certeza de quão rica eu sou naquele exato momento. Tão bom saber o quanto todo mundo ali estava feliz mais do que por mim, mas comigo, saber o quanto viver aquele momento era importante pra todos nós.

Queria poder te descrever cada detalhe, cada variação de sensação, cada cheiro, cada percepção de cor. Mas sei que de uma forma ou de outra tu estavas lá e sentiu comigo cada uma das emoções que descrevi aqui e também as que guardei comigo.

Sinto todos os dias a tua falta, mas mais que isso, sinto sempre a tua presença, naquilo que sou, naquilo que nos ensinaste, no que deixaste. E posso jurar que enquanto fazia meu discurso seguido do brinde te ouvi sussurrando no meu ouvido:
- Benze a Deus! Minha mais velha se formou!

Foi tudo lindo Pai, sei que tu também achou...

Nenhum comentário:

Postar um comentário