segunda-feira, 20 de agosto de 2012

DO OUTRO LADO


Quando eu era pequena gostava de brincar de andar pela casa com o espelho refletindo o teto e eu fazendo de conta que era o chão. Virava ele pra cima e ficava olhando e andando, pulando quando aparecia uma lâmpada e cuidando pra não tropeçar quando tinha uma viga. Gostava de ver as coisas de cabeça pra baixo.

Quando fiquei um pouco mais velha, gostava de colocar um colchão no chão próximo a parede e plantar bananeira. Ficava horas fazendo isso. Me atirava em direção à alvenaria pra que ela sustentasse meu peso e lá ficava me equilibrando nas mãos. Tudo ao contrário, meu mundo de ponta cabeça. Tão bonito.

Gostava de ver futebol pulando em cima da cama. De andar de balanço e ao invés dele ir pra frente e pra trás, girá-lo ao máximo que conseguia só pra ver tudo rodando ao meu redor. De voltar de uma longa caminhada e não me atirar no sofá, mas sim me esticar no chão duro de madeira. De andar de bicicleta de pé. 

Hoje, ainda conservo velhos hábitos. Nas salas de aula costumo me encostar nas paredes e virar pra turma e não pro professor. Onde é possível gosto de sentar no chão ou no braço do sofá. Durmo feliz em um colchão sobre o piso. Prefiro sentar de perna de índio do que elegantemente cruzar as pernas. Observo sempre as copas das árvores dos locais em que me encontro e as fachadas das ruas na qual estou.

Aprendi cedo como ver as coisas sobre diferentes pontos de vista, me acostumei com eles. Gosto da sensação que cada “mirada” diferente me proporciona. Talvez daí venha minha fascinação por palavras palindrômicas. Como elas podem ser sempre iguais. Daí a ironia de eu me chamar ANA, que de trás frente, da frente pra trás é tudo igual. Daí meu anseio de descobrir novos meios de olhar. Porque é o jeito que a gente vê o mundo que determina como iremos agir sobre ele.

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