terça-feira, 21 de agosto de 2012

TERREMOTO


Meu corpo tremia internamente. Como se parte de mim estivesse entrando em erupção. Um terremoto interno que eu não consigo controlar. Uma agitação que não se reflete em minhas mãos firmes. Como se algo dentro de mim ansiasse por sair e tentava fortemente se livrar das barreiras físicas existentes.

Usei todos os exercícios de respiração que conheço pra ver se isso passava. Rezei, quando os exercícios não tiveram efeito. Pensei então em levantar. Encarei o momento como eu me dizendo que era hora de tocar a vida. Usei toda a minha racionalidade para encontrar o porquê daquilo. Fui vencida pelas sensações.

Mudei de cama, de posição, de tática. Quem sabe era só o lugar, que me trazia más recordações daquela noite terrível de 2011. Não funcionou. Dessa vez parecia que seria um pouco mais complicado.  

Levantei. Andei pela casa, tomei café. Nada. Tentei me lembrar dos sonhos que tive durante a noite. Esforço em vão. Sabia que tinha sonhado o tempo inteiro, mas por mais que eu tente não consigo me lembrar exatamente com o que. Tinha água, uma casa, uma pessoa. Eu tinha que salvar ela, mas não dava. Eu tentava e não conseguia. Parei de pensar nisso, não ajuda. Não agora.

Coloquei minha música favorita a tocar. Prestei atenção na letra, me agarrando a cada silaba pronunciada. Fui até a janela pros raios de sol me abraçarem. Me senti mais viva. Tomei o café da manhã. Segui a rotina como manda o figurino. Espantada em como minhas mãos teimavam em não transparecer o que estava acontecendo. Pensei que fosse o frio, me dei conta que continuava quente. Resolvi escrever.

Me debrucei sobre o papel e deixei as palavras virem. De repente a energia não estava mais lá. O terremoto se fora. Como se cada uma das palavras desse texto tivesse filtrado um pouco do que estava dentro de mim. Ou será que foi o calor do sol que fez minha energia se evaporar. Pode ser que tenha sido a reza que tenha feito efeito, a música ou quem sabe tudo junto.

Pra quem tem os sentidos aguçados. Que insiste em ver mais, ouvir mais, observar mais, tem coisas na vida que se tornam complicadas. Não sei a fórmula mágica pra voltar a ver menos, ouvir o necessário e não entender além do óbvio. Por muito tempo busquei ignorar isso, porque achava que as coisas seriam mais fáceis. Hoje, me contento em lidar com elas. Sinto tudo com uma intensidade imensurável. E não considero isso algo bom, mas algo que de uma forma ou de outra faz parte de mim e eu tenho que conviver.

O pior é não ter um método racional para controlar isso. Teu corpo não obedece. Essa coisa de instinto que prevalece e te guia pra onde ele quer que tu vás. E não existe a opção de ir contra, porque é pior. Deixar que tudo flua sem pensar no fim é complicado pra nós que vivemos conectados ao futuro. É a minha aventura de cada dia. Deixar meu corpo ser minha razão. Deixar minhas mãos livres, para escreverem o que quiserem e só depois ver se faz sentido.

Agora, meu corpo já não treme mais. Minha razão volta a guiar minhas pernas, meus braços, minha cabeça. Não tenho mais um turbilhão de pensamentos. Finalmente, meu dia amanheceu em paz.

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